sexta-feira, 27 de maio de 2016

Como se destrói uma Nação

O escritor e historiador José Murilo de Carvalho é autor de uma obra-prima que tem como título "Os Bestializados". 1888: Abolição do trabalho escravo. 1889: Proclamação da República. Neste livro, José Murilo de Carvalho convida-nos a revisitar o Rio de Janeiro em suas primeiras encenações como Capital Federal, Cidade Maravilhosa, se acrescentarmos ao belo, o terrível; ao cômico, o trágico, à lógica, a loucura. 
Cidade mais que imperfeita, palco de políticas oficiais e invisíveis, de enredos conhecidos e mistérios insolúveis. História social e literária, antropologia urbana, crítica cultural, análise política: o autor atravessa com brilho todos esses campos para reconstruir de forma originalíssima os impasses de uma República nascente, que teimam em perturbar ainda o sono das elites brasileiras. Os Bestializados de ontem e de hoje são a face oculta de nosso modernismo: a cidade permaneceu alheia e atônita, buscando perdidamente seus cidadãos. Assim como na época da escravidão e da Proclamação da República, o povo assiste bestializado toda uma tragicomédia sem entender direito o que está acontecendo. Ou sendo manipulado. 
Quem assiste o surreal Brasil atual, imagina estar vivendo um pesadelo. Uma plutocracia que age uníssona para derrubar uma presidenta eleita com mais de 54 milhões de votos e coloca no lugar um impostor que tem a seu redor uma camarilha das mais perigosas envolvidas em assaltos aos cofres públicos. E esta camarilha começa a agir para mostra a que veio, ou seja, destruir um país. 
Aqueles que assistem bestializados as primeiras medidas deste governo golpista, fica escandalizado. Uma série de medidas que vão retirando direitos básicos dos brasileiros. Todas muitas graves, mas a pior delas, é a desvinculação da receita dos orçamentos municipais, estaduais e federais em relação à educação e à saúde. Para isso, o ministro da Fazenda usa de palavras difíceis que a maioria das pessoas não entende como "desvincular" ou "desindexar". Tais palavras significam tragédias para a população pobre deste país. 
Quando se assiste a um "ministro" da Educação receber em seu gabinete dois trogloditas e idiotas como Alexandre Frota e Marcelo Reis (líder do MBL) para discutir propostas para sua pasta, é algo terrível. Na verdade, o tal "ministro" não tem capacidade para ser diretor de uma escola, imagina, ministro da Educação. Ao receber dois imbecis como estes para dar sugestões à educação brasileira, é algo trágico e cômico. Imagine em que mãos o país foi entregue. 
Mas, vão mexer na aposentadoria dos brasileiros, aumentando a idade para 65 anos. Imagina quem vai conseguir se aposentar em um país onde uma pessoa com 40 anos de idade já é considerada velha para o mercado de trabalho. Vão flexibilizar a CLT para que os empresários possam deitar e rolar, dando golpes nos trabalhadores. 
O significado do "plano econômico" anunciado pelo golpista Michel Temer é um "corte proposto contra a educação, principalmente contra os jovens de hoje e as próximas gerações de estudantes". O corte proposta contra a saúde é também contra as gestantes, as crianças e todos os carentes. 
Na contramão do que é a vontade do país. Na contramão do que o Brasil precisa para deixar de ser este mar de carências e atraso do meio milênio. Na contramão de que qualquer pessoa de um pouco de humanidade e bom-senso sabe que é necessário se queremos ser um país. 
O que está em jogo é a destruição de um país. De uma Nação. Vão entregar as riquezas do pré-sal para a Chevron norte-americana, dinheiro este que deveria ficar para que pudéssemos dar um salto na história. Um golpista que diz saber tratar "com bandidos". Ele sabe o que está dizendo, afinal, está cercado de bandidos.