segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

A Igreja de Francisco e a outra igreja


O papa Francisco tem encontrado muita resistência dentro da Igreja Católica para implementar as mudanças que venham de encontro com os anseios dos fiéis. Após a morte de Paulo VI e João Paulo I, a Igreja Católica passou por um longo período de conservadorismo levado adiante por João Paulo II e Bento XVI.
Todos aqueles identificados com uma igreja aberta e próxima dos pobres, lutando ao lado deles, principalmente na América Latina foram perseguidos e colocados à margem. Foram momentos em que a igreja definitivamente esteve ao lado dos pobres, sofrendo a mesma dor deles, e pagando um preço extremamente alto por esta opção. Foi quando surgiu a Teologia da Libertação que propunha uma igreja engajada na luta diária pelos pobres, à exemplo do fez Jesus Cristo quando esteve na terra.
Neste espectro, destacaram-se, principalmente na América Latina, D. Paulo Evaristo Arns, cardeal de São Paulo, lutando contra os arbítrios do regime militar no Brasil; D. Oscar Romero, arcebispo de San Salvador, na luta pelos perseguidos pelo regime militar e assassinado por um soldado do exército salvadorenho no momento em que fazia a Eucaristia; assim como outros grandes religiosos católicos da época. O mesmo ocorreu com renomados teólogos, principalmente com Leonardo Boff; o peruano Gustavo Gutierrez Merino; e o teólogo suíço Hans Kung; todos identificados com a Teologia da Libertação.
Ao assumir o papado, João Paulo II iniciou um expurgo na Igreja Católica levando ao ostracismo tais religiosos e teólogos. Vários bispos identificados com a Teologia da Libertação, foram colocados em dioceses menores e sem expressão; enquanto os teólogos foram “condenados” ao silêncio ou mesmo deixar a igreja.
O papa Francisco assume tendo que desmontar este arcabouço conservador. O resultado disso é uma oposição ferrenha dos conservadores no Vaticano contra esta prática. O mesmo ocorre no Brasil. Após João Paulo II, temos uma igreja que não vive a realidade do povo pobre. Inclusive, esta prática levou milhares de pessoas das periferias das cidades brasileiras – e latino-americanas – a irem para as seitas pentecostais e neopentecostais que prometem o “céu” na terra.
Estas pessoas se sentiram abandonadas pela Igreja Católica e foram seduzidas pelo apelo emocional e milagreiro destas seitas. O resultado disso é um crescimento descomunal dos evangélicos (mais propriamente destas seitas) e uma redução sem igual do rebanho católico. Ícones evangélicos marcam o cenário religioso brasileiro de forma descomunal, muitos deles amealhando verdadeiras fortunas, viajando de jatinhos de milhares de dólares para cima e para baixo.
Após alguns anos à frente da Igreja Católica, o papa Francisco I não conseguiu mudar ainda a igreja. Ao contrário, principalmente no Brasil, a maioria da igreja é conservadora. O papa Francisco I tem feito críticas fortes ao capitalismo e a forma injusta que leva milhares de pessoas à pobreza. Grande parte dos padres e bispos brasileiros fazem ouvidos moucos a estas críticas feitas por Francisco. O papa se recusa a visitar o Brasil após o golpe engendrado contra a presidenta Dilma Rousseff, apesar dos convites feitos pelo atual governo. Francisco já visitou vários países latino-americanos, mas não inclui o Brasil em seu roteiro de viagem.

Infelizmente, padres e bispos não levam em consideração os ensinamentos de Francisco e suas diretrizes, que é uma Igreja próxima das pessoas pobres. As missas são monótonas e os padres e bispos dizem coisas que não fazem na prática. Inclusive, permitir que divorciados possam ter acesso ao que igreja oferece às demais pessoas. Os bispos e padres brasileiros (não todos, claro) deveriam seguir aquilo que D. Oscar Romero disse antes de ser assassinado em El Salvador: “Jesus Cristo não está deitado em uma rede nas nuvens. Ele está no meio dos pobres, sofrendo suas injustiças e caminhando com eles”.